Ainda dá para recomeçar

O que havia acontecido com a gente? Perdi o chão, perdi meu coração - que ficou naquele restaurante da avenida principal. Perdi a noção, perdi o tudo que achei que tínhamos e acabei descobrindo que não éramos nada. Se foi a inspiração, essa eu também perdi. Logo a minha inspiração! A única companhia que pensei que teria para transferir para a tela do meu computador essas dores que atualmente, foi o que não me deixou, não se perdeu com tudo de bom que se foi de mim. Eu queria ter contado para ele todos os planos que eu escrevi pra gente, até das cartas que imprimi para enviá-las à ele no natal. Eu sempre escolhia as datas de finais de ano porque embora eu não acreditasse que as coisas fossem capaz de ser tão adequadas e convincentes quanto os comerciais de reveillon e ceias de natal, sempre essas épocas davam uma ideia de tudo novo e limpo. O mundo ilude tanto a gente que preferimos acreditar que está tudo bem e que o próximo ano lava todas as nossas sujeiras do ano velho, que até mesmo os absorventes irão deixar as mulheres calmas e relaxadas na tepeeme. Eu perdi a minha estima, me senti gorda e feia, parecia que tudo conspirou contra mim depois daquele fim de tarde. Perdi meus meses batalhados na academia e a minha dieta foi por água abaixo, isso explica o porquê da minha baixa-estima. Perdi a concentração e o equilíbrio, caminhei em ovos e acabei por quebrá-los. Perdi o caminho de volta pra trilha e me perdi, me escondi. Desliguei a TV e o rádio, não quis mais ler, escrever, nem praticar qualquer que fosse a atividade que me lembrasse você. Até do meu capuccino eu abri mão. Eu te amei de uma forma tão intensa que esqueci completamente de me amar intensamente também. Esqueci de me arrumar mais para mim e menos para você, só para agradar você. Esqueci de estar sempre à minha disposição, e de alcançar uma meta de um corpo que eu achasse ideal. Esqueci de beijar o meu espelho e se orgulhar da pessoa que via no reflexo dele, esqueci de mim. Esqueci de buscar meus próprios ideais, de conhecer lugares novos e ir nas inaugurações de café's. 

Esqueci de comer tudo o que me desse vontade, de usar as roupas que me caíssem bem e me extrovertir mais, me divertir mais, de pensar mais e sentir menos. Esqueci de fazer minhas próprias amizades e expor mais as minhas opiniões, de mostrar mais quem eu era e quem sempre quis ser. Eu te amei de uma forma absurda. Perdi os melhores sentimentos com você e desde aquela tarde o meu café esfriou de um jeito que me fez não desejá-lo mais. E olha que sempre fui louca por essa droga, do gosto mais amargo ao doce. E no fim não foi só o café que esfriou e ficou amargo. Eu ainda sinto falta, dá uma saudade que aperta o peito e dá aquele nó na garganta, mas penso que foi melhor assim. Me sufocava alimentar tanto amor e quase não ser alimentada. Eu depositei todo o amor que eu pude nele, mas não era pra ser. Nem trevos de quatro folhas, figas ou o que quer que fosse faria dar certo se eu continuasse vivendo uma vida dependente da dele. Eu perdi mesmo, me perdi também. Mas ainda dá pra recomeçar. Eu ainda posso me encontrar, me redescobrir e viver mais a minha própria vida, me sentir mais leve e mais neutra e estar satisfeita comigo mesma. Porque enfim, eu precisava viver sozinha. Precisava ser independente e criar as minhas próprias conclusões. Não digo que não quero mais, não se pode guardar rancor de algo que um dia já nos fez bem. É só que eu precisava olhar mais para dentro de mim e satisfazer as minhas necessidades. Talvez fosse apenas isso. Para dar certo eu precisava viver fora da asa dele. É por isso que sofri com o fim, pela comodidade que aquela relação havia se transformado. Talvez a gente se reencontre na avenida principal ou em qualquer esquina de São Paulo. Ainda dá para recomeçar e se fazer mais paixão. Sempre é tempo para recomeçar tudo novo de novo, se desfazendo dos pesos do passado. Eu quero reencontrá-lo, mas quero me encontrar primeiro.